(A série Telessaúde Responde divulga as perguntas enviadas pelos profissionais de saúde e respondidas pelo serviço de Segunda Opinião Formativa do Telessaúde SC. Acesse mais perguntas aqui)

Tendo uma forte suspeita de câncer, convém relatar ao paciente as impressões clínicas, ressaltando, no entanto, o caráter de suspeição diagnóstica. Esta abordagem precisa ser feita de forma clara e evitando termos técnicos que possam provocar problemas de interpretação. Assim, o profissional de saúde precisa saber comunicar-se com o leigo e tomar a precaução de se fazer entender1.

Sempre ao final de uma consulta com um paciente para comunicar-lhe uma notícia desagradável, deve-se verificar a compreensão, observar os sentimentos e a situação emocional do paciente e colocar-se, assim como o serviço, à disposição2, assegurando-lhe o atributo do acesso. Se houver necessidade de referenciá-lo para tratamento em serviços de atenção secundária ou terciária, assegurar-lhe um acompanhamento, coordenando e/ou integrando os cuidados recebidos – atributo de coordenação do cuidado.

A comunicação do diagnóstico ao paciente é dever do profissional de saúde e está prevista em seu código de ética profissional. A melhor maneira de se abordar um tema importante e estigmatizante como o câncer, é a verdade científica sobre a patologia em um linguajar compreensível ao público alvo.

A não comunicação só é permitida em casos de pacientes pediátricos, ou quando suas condições físicas ou psicológicas não permitam uma correta compreensão de sua doença, devendo nesse caso ser o diagnóstico comunicado à família. É, portanto, uma conduta de exceção e exige do profissional discernimento e envolvimento suficientes para saber reconhecer para quais pacientes a verdade pode ser omitida3.

Apesar dos avanços científicos e tecnológicos, o câncer ainda é uma doença estigmatizante. Tanto para os profissionais da saúde quanto para o doente e sua família, o diagnóstico de câncer continua sendo uma sentença de morte4. A abordagem familiar deve ser voltada para a troca de informações, que tem em seu escopo as necessidades do paciente naquele momento. É necessário avaliar o quanto o paciente já sabe sobre seu quadro e o que ele deseja saber sobre seu diagnóstico e prognóstico. Há quem deseje apenas saber se a situação é grave, outros querem saber detalhes da evolução, e outros ainda, se a doença pode ser fatal e quanto tempo de vida lhe resta2.

Fundamental neste tipo de situação é uma boa relação profissional-paciente, procurando não apenas informar uma condição, um diagnóstico, mas sobretudo, se dispondo a escutar e a compartilhar os anseios e as dúvidas do paciente, para que o mesmo perceba que o profissional de saúde está à sua disposição e com total atenção naquele momento4. A falta de comunicação com o paciente seguramente favorecerá uma situação de maior ansiedade.

Tendo como fundamento os princípios da Bioética, pode-se dizer que a comunicação da verdade diagnóstica ao paciente e seus familiares constitui um benefício para os mesmos (princípio da beneficência), por possibilitar sua participação ativa no processo de tomada de decisões (autonomia)3.

Por outro lado, em situações específicas onde o paciente encontra-se fora de possibilidades terapêuticas de cura, não somente em sua fase terminal, mas durante todo o percurso da doença surge a necessidade de um modo específico de cuidar. Esses cuidados, também denominados como cuidados de fim de vida nasceram, primordialmente, para atender aos pacientes portadores de câncer avançado, estendendo-se a todo paciente portador de alguma doença que cause dor intensa, além de sintomas físicos, sofrimento emocional e espiritual tão profundo, que tornem a vida extremamente insuportável5. São cuidados direcionados aos pacientes onde não mais existe a finalidade de curar, uma vez que a doença já se encontra em um estágio progressivo, irreversível e não responsivo ao tratamento curativo, sendo o objetivo desses cuidados propiciar qualidade de vida nos momentos finais. Define-se, deste modo, cuidados paliativos, como um modo de assistir pessoas, cuja doença não é mais responsiva ao tratamento curativo, caracterizando-se pelo controle dos sinais e sintomas físicos e psicológicos próprios ao estágio avançado da doença incurável. Assim, tanto o indivíduo que está doente quanto a família, enfrentam questões de natureza existencial (percepção do sentido, da paz, da esperança e do propósito da vida), nas quais suas crenças e seus valores exercem forte influência de como vivenciar o processo de morte e morrer. Assim é muito importante para a melhora na qualidade de vida de pacientes com dor crônica integrar aspectos da espiritualidade, fé e religiosidade com seu atendimento em diversos aspectos.

Bibliografia Selecionada

  1. DUNCAN, Bruce B, et als. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências – 4. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2013.
  2. GEOVANINI, Fátima. Notícias que (des) enganam: o impacto da revelação do diagnóstico e as implicações éticas na comunicação de más notícias para pacientes oncológicos. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 2011. Tese de Doutorado. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Disponível em: <http://bvssp.icict.fiocruz.br/lildbi/docsonline/get.php?id=2533>. Acesso em: 29 jan. 2016.
  3.  SILVA, Valéria Costa Evangelista da ; ZAGO, Márcia Maria Fontão. A revelação do diagnóstico de câncer para profissionais e pacientes. Rev Bras Enferm, jul-ago 2005; 58(4) : 476-80. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v58n4/a19v58n4.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2016.
  4. GOMES, Cláudio Henrique Rebello; SILVA, Patrícia Veloso; MOTA, Fernando Freitas. Comunicação do diagnóstico de câncer: Análise do comportamento médico. Revista Brasileira de Cancerologia, 2009 ; 55(2) : 139-143. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/Rbc/n_55/v02/pdf/07_artigo4.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2016.
  5. McCoughlan M. A necessidade de cuidados paliativos. Mundo Saúde (1995). 2003; 27(1): 6-14.

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